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Branca-flor. Veiu o creado e respondeu: — «Nem eu vi Branca-flor, nem ella me viu a mim.»

Vendo o rei que nada já podia ordenar que não fosse feito, disse ao creado: — «Casarás com minha filha logo que ella volte a palacio.»

N’esse mesmo instante Branca-flor a voltar. Então o rei perguntou-lhe se era da vontade d’ella casar com o seu creado particular, e ella respondeu que sim. Casaram mesmo n’esse dia e Branca-flor perdeu o encanto, mas não o poder de feiticeira.

Quando os noivos foram á noite para se deitar, reparou Branca-flor que sobre o seu leito estava suspensa por um cabello uma espada desembainhada, então disse ella ao seu marido: — «Vês esta espada? — «Vejo.» — É a prova de que meu pai nos quer matar; é preciso fugir, mas não o podemos fazer antes da meia noite e nem depois, porque até á meia noite pode minha mãe usar do seu poder de feiticeira e saberia para onde iamos, e ao dar da meia noite, virá meu pai matar-nos. Não devemos, pois, ao dar meia noite ter já fugido, mas devemos partir então. Vae aparelhar os cavallos que andam tanto como o pensamento e ninguem nos poderá alcançar; se fossemos nos que andam tanto como o vento, era máo, porque não andam tanto como os outros.»

Enganou-se o creado e aparelhou os cavallos que andavam tanto como o vento e Branca-flor sem reparar n’isso, partiu mais elle á hora que estava destinada.

Quando o rei foi ao quarto d’elles para os matar, viu que tinha sido logrado e então a rainha disse-lhe: — «Antes da madrugada não partas, porque estou sem o meu poder; mas logo que amanheça, manda aparelhar os cavallos que andam como o pensamento e eu farei com que tu alcances os fugitivos.»

Partiu o rei de madrugada e logo avistou os noivos muito ao longe e Branca-Flor tambem avistou seu pae e então disse a seu marido: — «Meu pae segue-nos, já o avisto ao longe; mas não te dê cuidado; os cavallos se transformem em terra, os arreios n’uma horta, eu numa