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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/72

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Dito e feito. Lá deram-se os mesmos casos que em casa da outra irmã, com a differença que o marido d’esta era o rei dos leões do mar que chegou a casa com grandes rugidos e na despedida deu ao rapaz um grande robalo e disse-lhe: — «Quando te vires em afflicção chama por mim.»

Depois foi o rapaz a casa da irmã mais nova, que era mulher do rei dos passaros; lá deram-se os mesmos acontecimentos que nas casas das outras irmãs e na despedida deu o rei dos passaros ao rapaz uma penna das suas azas, dizendo-lhe que quando se visse afflicto chamasse por elle.

O rapaz satisfeito por ver as irmãs e com muitas riquezas que ellas lhe tinham dado, dispunha-se a voltar á casa paterna; mas tendo-se perdido no caminho, depois de muito andar, avistou uma grande torre e perguntou que torre era aquella. Responderam-lhe:

É a torre de Babilonia;
Quem lá vae, lá fica e lá mora.»[1]

O rapaz, cheio de curiosidade, disse ás botas: — «Levae-me áquella torre.» E no mesmo instante achou-se lá; mas qual não foi o seu espanto ao ver as immensas riquezas que enchiam as salas que eram tudo maravilhas!

Caminhou, caminhou por toda a parte até que encontrou uma linda menina que ficou contentissima de o ver e ao mesmo tempo apaixonada. O rapaz perguntou-lhe o que ella ali fazia, ao que a menina respondeu: — «Ha muito que eu estou encantada dentro d’esta torre, tendo por companhia um velho que está sempre a dar ais e tem bocados de tão horrivel soffrimento que faz despedaçar o coração.» Então o rapaz aconselhou a rapariga a que instasse com o velho para que elle lhe dissesse o motivo de tal soffrimento; o que ella logo fez, mas com grande medo. Então o velho, com muito mais medo, lhe respondeu: — «Conto-te tudo, porque vejo que te interessas por mim e porque sei que ninguem mais no

  1. Variante: Quem lá vae nunca de lá torna.