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mundo pode penetrar n’esta torre. Há no mar um grande caixão que é a causa dos meus soffrimentos; quando lhe tocam, ainda mesmo que seja um pequeno peixe, são taes as dores que sinto que mais valia a morte e comtudo eu não quero morrer. Dentro d’esse caixão está um grande peixe; dentro do peixe está um leão; dentro do leão está um passaro; dentro do passaro está um ovo e esse ovo quebrado na minha testa dar-me-ia a morte, mas até que elle chegasse teria eu de soffrer tanto, tanto, que é isso o que me faz recear morrer.»

Contou a rapariga tudo ao rapaz e elle tractou logo de procurar o tal caixão e tudo o mais que elle continha, valendo-se para isso dos maridos de suas irmãs. Para abrir o caixão serviu-se da chave que tinha comprado aos tres irmãos. Logo que se viu de posse do ovo, foi quebral-o na testa do velho, mas elle dava taes urros que faziam tremer ceo e terra.

Morto o velho, casou o rapaz com a menina e levou-a para a casa de seu pae; depois foi buscar as irmãs e ficaram vivendo todos muito ricos e muito felizes.

(Coimbra.)



XVII


A HERANÇA PATERNA

Era d’uma vez um pae que tinha dois filhos, dos quaes o mais novo lhe disse um dia: — «Meu pae, dê-me a minha tença, que eu quero ir correr terras a ver se junto fortuna.» Então o pae deu-lhe o que lhe pertencia da parte da mãe e elle partiu-se para longes terras.[1]

  1. De longe faz o povo um adjectivo.