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Passaram-se alguns tempos e o rapaz vendo que não juntava fortuna, antes ia gastando a sua tença, resolveu-se a voltar á casa paterna. Chegado á sua terra natal soube logo que seu pae havia fallecido e que seu irmão transformara a casa em um palacio onde vivia regaladamente. Então o rapaz foi ter com o irmão, contou-lhe a sua vida e o irmão respondeu-lhe: — «Eu nada te posso fazer, pois o nosso pae nada me deixou, e a ti deixou-te essa caixa velha, recommendando-me que não a abrisse.»

Recebeu o rapaz a herança paterna e partiu para outras terras; no caminho desejou ver o que continha a caixa e abriu-a; eis que lhe sae de dentro um pretinho, muito pequenino, que lhe diz: — «Mande, senhor.» — «Mando que me apresentes um palacio com tudo quanto lhe é dado, carruagens e lacaios para me servirem.»

Dito e feito; tudo appareceu como elle desejava. Vivia o rapaz muito feliz no seu palacio, que era muito mais bello que o do rei, quando um dia recebeu a noticia de que seu irmão o ia visitar. Foi o irmão recebido ali com grandes festas e elle então perguntou-lhe como é que em tão pouco tempo tinha arranjado tanta coisa. — «Foi a herança que me deixou o nosso pae.» — «Mas, retrocou o irmão, a tua herança foi uma caixa velha.» — «Foi o que tu dizes, na verdade; mas dentro d’essa caixa é que está o segredo.»

Então o irmão tractou de lhe roubar a caixa e, sem que elle désse por isso, saiu do palacio. Chegado á sua, terra abriu a caixa e logo o pretinho disse: — «Mande, senhor.» — «Mando que meu irmão fique sem o seu palacio e appareça mettido n’uma prisão e que o meu palacio se transforme n’um mil vezes melhor do que era o d’elle.»

Tudo assim se fez e elle disse mais ao pretinho: — «Ordeno que faças com que a filha do conde de tal case commigo e que eu fique com o titulo de conde.»

Cumpriu-se tudo como elle desejava e para não lhe