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deu: — «Faça vossa magestade o que quizer, eu não posso amal-a sem ser desleal ao meu rei.» Foi então a rainha ter com o rei e disse-lhe: — «Eu deitei ao mar o meu annel de brilhantes e Antonio disse que era capaz de o ir apanhar.» Foi Antonia á presença do rei e respondeu que tal não dissera, mas que iria ver se apanhava o annel. Então chamou pelo padrinho e logo elle lhe appareceu e lhe disse: — «Vae pescar e o primeiro peixe que apanhares abre-o e dentro estará o annel.» Antonio assim fez e levou o annel á rainha.

A rainha desesperada foi ter com o rei e disselhe: — «Antonio disse que era capaz de ir á moirama buscar a nossa filha que está captiva dos moiros.» Antonia disse ao rei que era capaz de lá ir. Partiu e no caminho disse: — «Valha-me aqui o meu padrinho. Então elle lhe appareceu e disse-lhe: — Vae, os guardas do castello onde está a princeza hão de estar a dormir quando tu chegares; tu entras, tiras a princeza e nada mao te acontecerá. Aqui tens esta verdasquinha; has de bater com ella tres vezes na princeza, a primeira á saida da moirama, a segunda no meio do caminho e a terceira á entrada do palacio.» Antonia fez tudo como o padrinho lhe ensinara e levou a princeza para o palacio. Ora a princeza era surda-muda e a rainha disse ao rei que Antonio dissera que era capaz de dar falla á princeza. Então o rei disse: — «Antonio se déres falla á princeza casarás com ella.» Elle então disse: — «Valha-me o meu padrinho.» Appareceu-lhe o padrinho e disselhe: — «Pergunta á princeza porque é que tu lhe bateste com a verdasca que eu te dei e elle te responderá.» Foi Antonio deante do rei e da rainha e perguntou á princeza:


— «Porque te dei com a verdasca
Á saida da moirama?
— «Foi porque a minha mãe
Tres vezes te levou á cama.»