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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/93

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Encontrou um pobresito e perguntou-lhe se queria ser seu compadre d’elle.

— Quero; mas tu sabes quem eu sou?

— Eu sei lá; o que eu quero é alguem para padrinho do meu filho.

— Pois, olha, eu cá sou Deus.

— Já me não serves; porque tu dás a riqueza a uns e a pobreza a outros.

Foi mais adeante; e encontrou uma pobre e perguntou-lhe se queria ser comadre d’elle.

— Quero; mas sabes tu quem eu sou?

— Não sei.

— Pois, olha, eu cá sou a morte.

— És tu que me serves, porque tractas a todos por egual.

Fez-se o baptisado e depois disse a Morte ao homem:

— Já que tu me escolheste para comadre, quero-te fazer rico. Tu fazes de medico e vaes por essas terras curar doentes; tu entras e se vires que eu estou á cabeceira é signal que o doente não escapa e escusas de lhe dar remedio; mas se estiver aos pés é porque escapa; mas livra-te de querer curar aquelles a que eu estiver á cabeceira, porque te dou cabo da pelle.

Assim foi. O homem ia ás casas e se via a comadre á cabeceira dos doentes abanava as orelhas; mas se ella estava aos pés receitava o que lhe parecia. Vejam lá se elle não havia de ganhar fama e patacaria, que era uma cousa por maior! Mas vae uma vez foi a casa d’um doente muito rico e a Morte estava á cabeceira; abanou as orelhas; disseram-lhe que lhe davam tantos contos de reis se o livrasse da Morte e elle disse:

— Deixa estar que eu te arranjo, e pega no doente e muda-o com a cabeça para onde estavam os pés e elle escapa.

Quando ia para casa sae-lhe a comadre ao caminho:

— Venho buscar-te por aquella traição que me fizeste.