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ELEMENTO EUROPEU
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O moço offereceu bastante dinheiro pelos objectos, os irmãos aceitaram, e elle partiu. Quando se encobriu da casa, disse: «Bota, me bota na casa de minha irmã primeira.» Quando abriu os olhos estava lá. A casa era um palacio muito ornado e rico, e o moço mandou pedir licença para entrar e fallar com a irmã, que estava feita rainha. Ella não queria apparecer, porque dizia que nunca tinha tido irmão. Afinal, depois de muita instancia, deixou o estrangeiro entrar; elle contou toda a sua historia, a irmã o acreditou, e o tratou muito bem.

Perguntou-lhe como podia ter chegado alli áquellas brenhas, e o irmão disse-lhe o poder da bota. Pela tarde, a rainha se poz a chorar e o irmão lhe indagou da razão, ao que ella respondeu — que seu marido era o rei dos peixes, e, quando vinha jantar, era muito zangado, em termos de acabar com tudo e não queria que ninguem fosse ter ao seu palacio… O moço disse-lhe que por isso não se incommodasse, que tinha com que se esconder e não ser visto, e era a carapuça. Pela tarde, veiu o rei dos peixes, acompanhado de uma porção de outros, que o deixaram na porta do palacio e se retiraram. Chegou o rei muito aborrecido, dando pulos e pancadas, dizendo: «Aqui me fede a sangue real, aqui me fede a sangue real!…» do que a rainha o dissuadia; até que elle tomou o banho e se desencantou n'um bello moço.

Seguia-se o jantar, no qual a rainha perguntou-lhe: «Se aqui viesse um irmão meu, cunhado seu, você o que fazia?» — «Tratava e venerava como a você mesma; e si está ahi appareça.»

Foi a resposta do rei. O moço appareceu, e foi muito considerado. Depois de muita conversação, em que contou sua viagem, foi instado para ficar alli, morando com a irmã, ao que disse que não, porque ainda lhe restavam duas irmãs a visitar.