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CONTOS POPULARES DO BRAZIL

querem dizer hoje estas perguntas?» A mãi respondeu: «Não é nada, meu filho; eu é que ás vezes, porque vivo aqui sósinha, me ponho a imaginar estas tolices.» O Sol foi e respondeu: «O remedio é tirar da minha bocca, quando eu estiver comendo, um bocado e botar em cima da pedra.» A velha, d'ahi a pouco, fingiu um espanto, levou a mão á bocca do Sol e tirou o bocado, dizendo: «Olha, meu filho, um cisquinho na comida!» E guardou o bocado. D'ahi a pedaço a mesma cousa: «Olha um cabello, meu filho!» E escondeu mais um bocado. N'uma terceira vez, ella fez o mesmo e o Sol se levantou aborrecido, fallando: «Ora, minha mãi, seu de comer hoje está muito porco; não quero mais.» Deitou-se, e no dia seguinte foi-se embora para o mundo. Sua mãi foi á velhinha, que estava escondida, e lhe contou tudo, dando os tres bocados. A velha pôz-se a caminho para traz. Passando por casa das moças, ahi dormiu, sem querer dizer a razão porque ellas não casavam. No dia seguinte, bem cedo, ella levantou-se e as moças tambem. Ellas correram logo para o logar onde costumavam ourinar voltadas para o nascer do sol. A velha as reprehendeu, dizendo: «É esta a razão de vocês não casarem; percam este costume de ourinar para a banda d'onde o sol nasce.» As moças assim fizeram e logo acharam casamento. A andadeira tomou o seu caminho e foi-se embora a toda a pressa. Chegando na fructeira, pôz-se debaixo d'ella a cavar sem dizer nada; quando puxou um grande caixão, então disse porque a fructeira não dava fructas. O pé da arvore começou logo a carregar que parecia praga. A velha seguiu. Ao chegar ao rio, elle lhe indagou do seu recado: «Logo lhe digo;» e a velha foi passando depressa. Quando se viu bem longe, gritou: «É porque nunca matou gente.» O rio botou logo uma enchente tão grande, que por um triz não matou a velha. A final foi ella ter em casa. Sem mais demora applicou os tres bocados em cima das tres pedras, e os