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rido ha de tomar pela esquerda, tu deves tomar pela direita e mostrar-lhe o teu rozario para elle estourar e sumir-se para o inferno.»[1] Passou-se. Quando foi no dia do casamento houve muito pagode e divertimento; mas a moça sempre triste.

Quando chegou a hora da partida veiu um cavallo muito bonito e muito bem arreiado para a moça se montar. Ella disse ao pai que não queria aquelle, e só o mais feio e magro. O pai se espantou muito e não quiz concordar; a final foi obrigado a fazer os gostos da filha. Partiram os noivos; quando chegaram longe da casa havia no caminho uma encruzilhada; ahi o cão quiz botar a moça adiante pelo lado esquerdo. Então a moça disse: «Vá o senhor adiante que sabe do caminho de sua casa e não eu que nunca lá fui.» O cão ahi se zangou; mas a moça tomou pela estrada da direita, mostrando-lhe o rozario. O cão estourou, e foi cahir nas profundas, e a moça seguiu a toda a bride.[2] Lá mais adiante, ella cortou os cabellos e vestiu-se de homem, toda de verde. Chegando a um reino, foi servir na guarda do rei com o posto de sargento. A gente toda a chamava de Sargento verde. O rei tomou-lhe muita amizade, tanto que quasi todas as tardes o convidava para ir passear com elle no jardim. A rainha ficou, com poucos dias, apaixonada por Sargento verde. Uma tarde, depois de jantar, tendo-o o rei convidado para passear no jardim, ao passar elle pela rainha, ella lhe disse: «Olha, Sargento verde, que lindos olhos, e que lindo corpo para divertir comtigo!» O Sargento respondeu: «Não sou falso a meu rei.» A rainha despeitada levantou-lhe um aleive ao rei: «Saberá vossa real magestade que Sar-

  1. É crença popular que o diabo quando se vira em alguma pessoa ou animal, e depois se desencanta, dá um estouro que fede a enxofre.
  2. Brida