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andar montado no seu cavallo no largo do palacio, por cima de duas fileiras de ovos sem quebrar um só.» (Segue-se outra scena egual ás precedentes). No dia seguinte o Sargento verde caminhou diante de muita gente, por cima das fileiras de ovos sem quebrar nenhum. Houve muita festa. A rainha ainda mais apaixonada ficou. Passados dias ella armou-lhe novo falso, que foi: «Saberá vossa real magestade que Sargento verde disse que se atrevia a ir buscar no fundo do mar a sua irmã a princeza encantada.» Chamado pelo rei, Sargento ficou triste; mas não negou, e foi fallar com o seu cavallo que lhe disse: «Não tem nada; muna-se minha senhora de um garrafão de azeite doce, de um punhado de sal e de uma carta de alfinetes; monte-se em mim, chegue na praia, com a sua espada corte as ondeas[1] em cruz, que as aguas se hão de abrir; entre, bote a moça de garupa, e largue para traz a toda a pressa e bote sentido nas tres palavras que a moça disser no caminho. Tenha cuidado no bicho feroz que guarda a princeza, porque elle ha de perseguil-a atraz; largue-lhe o sal e a carta de alfinetes.» Chegado o dia, Sargento preparou-se e se pôz a caminho montado no seu cavallo, fez tudo como lhe disse o cavallo, servindo-se da espada para abrir, e do azeite para clarear o mar. Tirou a moça e largou-se para traz a toda a bride. Ao sahir do mar a moça disse: «Já!» e o Sargento tomou nota. Estando um pouco adiante olhou para traz e avistou o bicho que vinha damnado correndo, largou o sal e logo gerou-se no mundo um nevoeiro tamanho que o bicho não pôde romper. Continuou; adiante a moça encantada disse: «Bella!» e elle tomou nota ainda. Olhando para traz, lá vinha o bicho outra vez; largou a carta de alfinetes e gerou-se uma matta serrada de espinhos e a fera não

  1. Ondas.