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pôde passar. Já perto de palacio a moça disse: «Tudo!» elle de novo tomou sentido, e chegaram ao fim da viagem, havendo muita alegria e muitas festas, e a rainha ainda mais perdida ficou pelo Sargento verde.

No emtanto a princeza encantada não fallava; estava muda. Com pouco a rainha levantou um quinto aleive ao Sargento, e foi dizer ao rei que elle se atrevia, segundo dissera, a dar falla á muda. O Sargento foi, como sempre, ter com o seu cavallo, que lhe disse: «Não tenha medo; na hora do almoço dê com uma corda na moça, até ella dizer qual foi a primeira palavra que disse ao sahir do mar, e o que ella quer dizer; no jantar faça o mesmo,e indague pela segunda; na ceia o mesmo e indague pela terceira, e a princeza ficará fallando.»

Assim fez elle. No almoço do dia seguinte metteu a corda na princeza com as palavras: «Falle, moça! qual a palavra que disse ao sahir do mar?» A moça calada, e elle a dar-lhe, até que ella disse: «Já!» — «O que quer dizer?» A muito custo ella disse: « — quer dizer — já estou livre, de tantos trabalhos.» No jantar houve o mesmo, e a princeza disse: «Bella! — quer dizer — são duas donzellas, ella e o Sargento verde que se chama Lucinda.» Na ceia o mesmo, e ella disse a ultima palavra, que quer dizer: «Tudo! si Lucinda fosse homem, ha muito el-rei, meu irmão, seria cornudo.» Houve muito espanto de tudo aquillo; o Sargento verde voltou aos trajos de moça; a princeza ainda ficou no palacio e fallando, e o cavallo do Sargento desencantou-se n'um lindo moço. Este se casou com a princeza desencantada; o rei se casou com Lucinda, porque a rainha morreu amarrada em dous burros bravos, por ordem de seu marido.