Página:Contos Populares do Brazil.pdf/67

Wikisource, a biblioteca livre
ELEMENTO EUROPEU
27

rio de prata, e, ao depois, no rio de ouro, e, quando acabou, deitou-o fóra de casa, dando-lhe uma varinha de condão. O moço começou a andar e foi ter a um reino. Ahi encontrou um negro velho, a quem chamou pai Gaforino, e lhe pediu que lhe cedesse a sua roupa velha e suja para encobrir a sua côr e poder entrar na cidade. O negro cedeu; mas uma princeza, que estava na janella do palacio, chegou a vêr a elle vestir a roupa velha do preto, e, conhecendo que elle se encaminhava para o palacio, disse ao rei que queria se casar com o peor negro que alli chegasse. O pai, ficando admirado pelo mau gosto da filha, não teve outro remedio senão mandar chamar o negro e contractar o casamento, com o que o moço disfarçado em negro ficou espantadissimo, porque não pensava que tivesse sido visto por ninguem. Aceitou a princeza por mulher, e, sempre muito desconfiado, não se deitava na cama com ella, e sim n'uma taboa ao pé do fogo. O rei teve tão grande desgosto, que poz-se de cama em estado de morrer. A familia então fez uma promessa á Padroeira que se o rei escapasse, mandava fazer uma festa na egreja que durasse tres dias. O medico receitou ao rei que comesse tres pássaros de plumas; e tendo sabido o negro que os dous genros, que o rei tinha, haviam sahido a procurar, cada qual montado em seu cavallo, pediu á sua varinha de condão uma carruagem e um rico vestuario e tres passaros de plumas. Metteu-se na carruagem com os passaros, e sahiu; mais adiante encontrou os genros do rei. Elles perguntaram se aquelles passaros eram de pluma e se os queria vender. Respondeu que eram de pluma, mas que só os cedia se deixasse elle os ferrar a cada um n'um quarto com o seu ferro. Os moços consentiram, e voltaram para o palacio com os tres passaros, que o rei comeu e ficou bom. Seguiu-se a festa dos tres dias. O negro mandou que sua mulher fosse á egreja vêr a festa, e, occultamente, pediu á sua varinha de