Página:Contos Populares do Brazil.pdf/69

Wikisource, a biblioteca livre
IX


Dona Labismina


(Sergipe)


Uma vez havia uma rainha, casada já ha muito tempo, que nunca tinha tido filhos, e tinha muita vontade de ter, tanto que uma vez disse: «Permitia Deus que seja uma cobra!…» Passados tempos appareceu gravida, e quando deu á luz foi uma menina com uma cobrinha enrolada no pescoço. Toda a familia ficou muito desgostosa; mas não se podia tirar a cobrinha do pescoço da criança. Foram crescendo ambas juntamente, e a menina tomou muita amizade pela cobrinha. Quando já mocinha, costumava ir passear á beira do mar, e lá a cobra a deixava e fugia para as ondas, mas a princezinha punha-se a chorar até que a cobra voltava, se enrolava outra vez no seu pescoço e iam ambas para palacio, onde ninguem sabia d'isso. Assim foram indo até que um dia a cobra entrou no mar e não voltou mais, porém disse á irmã que, quando se visse em perigo, chamasse por ella. A cobra tinha o nome de Labismina e a princeza o de Maria. Passados annos, cahiu doente a rainha, e morreu; mas na hora de morrer tirou do dedo uma joia e deu ao rei, dizendo: «Quando tiveres de casar outra vez, deve ser com uma princeza em que esta joia der sem ficar nem frouxa, nem apertada.» Depois de algum tempo, o rei quiz se casar e mandou experimentar a joia nos dedos das princezas de todos os reinos, e não encontrou nenhuma em que o annel coubesse pela fórma que lhe tinha recommendado a rainha. Só faltava a princeza Maria, sua filha; o rei chamou-a e botou a joia no seu dedo, e ficou muito boa. Então elle disse á filha que queria se casar com