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ELEMENTO EUROPEU
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se de escada abaixo e foi-se embora. O rei então conheceu tudo, e dizia: «D. Pinta, D. Pinta!… um dia eu hei de vingar-me.»

Tempos depois, chegou o pai das tres moças das guerras. As duas filhas deshonradas ficaram mais mortas do que vivàs para irem tomar a benção ao pai, porque não tinham mais a sua rosa viva! D. Pinta as valeu, dizendo a uma d'ellas: «Tome a minha rosa, mana, vá primeiro você, e ao depois vá fulana, e depois eu.» Assim fizeram, e enganaram o velho que de nada soube.

Depois d'isto, andava o rei uma vez passeando embarcado no mar e encontrou D. Pinta n'um bote tambem passeando. Ella, quando o avistou, o convidou para ir para o seu barco, e passearem juntos. Na occasião do rei entrar, ella o atirou no lodo da maré e elle ficou todo emporcalhado. Ficou vendendo azeite ás canadas, e procurando um meio de se vingar. Não achando nenhum, fez o plano de a pedir em casamento, e matal-a depois de casados. Fez o pedido, e a moça não aceitou. Afinal tanto instou que a moça disse ao pai: «Está bom, meu pai, diga á elle que eu o aceito, mas ha de me dar seis mezes de espera.» 0 velho foi dizer ao rei que a filha aceitava, mas pedia uma espera. Isto era tempo que D. Pinta pedia para poder preparar uma boneca, e parecida com ella, para enganar ao rei.

No fim de seis mezes não estava prompta ainda a boneca, e o rei tendo mandado marcar o dia do casamento, D. Pinta respondeu que só se casaria se o rei mandasse fazer um palacio novo. O rei concordou, e mandou fazer o palacio. Quando já estava a obra quasi prompta, D. Pinta não tinha ainda a boneca preparada, e, então, uma noite foi ao palacio velho ás escondidas, furtou a roupa do rei, metteu-se n'ella e foi ter com o mestre da obra, e fingindo que era o rei, e muito zangado dizia: «Isto não é obra; quero já que me botem tudo abaixo e façam tudo de novo.» Isto era de noite; o mestre