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perada e lhe disse para que banda o principe tinha tomado. A moça poz-se como uma desesperada a caminhar atraz do marido. Adiante encontrou um carvoeiro muito porco e rasgado, trocou com elle a sua roupa e seguiu. Adiante mais encontrou o carro que ia com o principe, que parou e lhe perguntou: «Oh! meu carvoeiro, você passou em casa de uma velha?» — «Sim, senhor.» — «Viu lá uma moça?» — «Sim, senhor» — «O que fazia ella?» — «Chorava e se lastimava, dizendo: Oh principe ingrato, que te foste e me deixaste!…» O principe, que ouviu isto, ficou com muita pena, e botou o carvoeiro no carro. Todo o caminho foi-lhe perguntando a mesma cousa, e sempre o carvoeiro respondendo o mesmo. Assim foram andando até á terra do principe e sempre elle com o carvoeiro. Chegado o dia de seu novo casamento, sempre elle triste e perguntando a mesma cousa ao carvoeiro. Toda a familia ficou muito desgostosa d'aquillo, e a noiva com muito ciume; mas não tinham o que fazer, porque o principe disse que não podia viver sem o seu carvoeiro. Feito o casamento, quando foram se deitar, o principe, com grande espanto de todos, levou tambem para o quarto o seu carvoeiro. Deitou-se no meio, poz a noiva de um lado e o carvoeiro de outro, e entre ambos o seu alfange. Pegou no somno. O carvoeiro, que o viu dormindo, pegou no alfange e se matou; o principe, que o vê morto, diz: «Meu carvoeiro morto; eu tambem.» E se matou: A moça, que vê isto, diz: «Meu marido morto, eu tambem.» E se matou. No outro dia encontraram aquelle destroço, e foram fazer o enterro. Quando iam estando os corpos na sepultura, chegou um beija-flôr e escreveu nas testas dos tres: «Ninguem desfaça o que Deus fizer…» e deu vida ao principe e ao carvoeiro que se revelou como princeza e ficou vivendo com o seu marido.» O papagaio, quando acabou de contar esta historia, disse á princeza: «Agora princeza minha senhora, já é tarde, e deixe-se de ba-