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tarde, a vaquinha deitou para fóra aquella porção de novellos tão alvos e bonitos!… Maria, muito contente, botou-os no cesto e levou-os para casa. A madrasta ficou muito admirada, e no dia seguinte lhe deu uma tarefa ainda maior. Maria foi ter com a sua vaquinha, e ella fez o mesmo que da outra vez. No outro dia a madrasta deu á mocinha uma grande tarefa de renda para fazer; a vaquinha, como sempre, foi que a salvou, engolindo as linhas e botando para fóra a renda prompta e muito alva e bonita. A madrasta ainda mais admirada ficou.

D'outra vez mandou ella buscar um cesto cheio d'agua. Maria Borralheira sahiu muito triste para a fonte, e foi ter com a vaquinha que lhe encheu o cesto, que ella levou para casa. D'ahi por diante a madrasta de Maria começou a desconfiar, e mandou as suas duas filhas espiarem a moça. Ellas descobriram que era a vaquinha que fazia tudo para a Borralheira. D'ahi a tempos a mulher se fingiu pejada e com antôjos e desejou comer a vaquinha de Maria. O marido não quiz consentir; mas por fim teve de ceder á vontade da mulher que era uma tarasca desesperada.

Maria Borralheira foi e contou á vacca o que ia acontecer; ella disse que não tivesse medo, que, quando fosse o dia de a matarem, Maria se offerecesse para ir lavar o fato; que dentro d'elle havia de encontrar uma varinha, que lhe havia de dar tudo o que ella pedisse; e que depois de lavado o fato, largasse a gamella pela corrente abaixo e a fosse acompanhando; que mais adiante havia de encontrar um velhinho muito chagado e com fome; lavasse-lhe as feridas e a roupa, e lhe désse de comer, que mais adiante havia de encontrar uma casinha com uns gatos e cachorrinhos muito magros e com fome, e a casinha muito suja, varesse o cisco e désse de comer aos bichos, e depois de tudo isso voltasse para casa. Assim mesmo foi.