Página:Contos Populares do Brazil.pdf/98

Wikisource, a biblioteca livre
58
CONTOS POPULARES DO BRAZIL

Alli passavam as crianças dias inteiros, espantando-os e cantando:

Xô, xô, passarinho,
Ahi não toques teu biquinho,
Vae-te embora p'ra teu ninho…»

Quando acontecia apparecer qualquer figo picado, a madrasta castigava as meninas. Assim foram passando sempre maltratadas. Quando foi uma vez, o pai das meninas fez uma viagem, e a mulher mandou-as enterrar vivas. Quando o homem chegou a mulher lhe disse que as suas filhas tinham cahido doentes e lhe tinham dado grande trabalho, e tomado muitas mésinhas, mas sempre tinham morrido. O pai ficou muito desgostoso.

Aconteceu que nas covas das duas meninas, e dos cabellos d'ellas, nasceu um capinzal muito verde e bonito, e quando dava o vento o capinzal dizia:

Xô, xô, passarinho,
Ahi não toques teu biquinho,
Vae-te embora p'ra teu ninho…»

Andando o capinheiro da casa a cortar capim para os cavallos, deu com aquelle capinzal muito bonito, mas teve medo de o cortar, por ouvir aquellas palavras. Correndo foi contar ao senhor.

O senhor não o quiz acreditar, e mandou-o cortar aquelle mesmo capim, porque estava muito grande e verde. O negro foi cortar o capim, e quando metteu a fouce ouviu aquella voz sahir de baixo da terra e cantando:

«Capinheiro de meu pai,
Não me cortes os cabellos;
Minha mãi me penteava,
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira
Que o passarinho picou.»