Página:Contos Populares do Brazil.pdf/99

Wikisource, a biblioteca livre
ELEMENTO EUROPEU
59

O negro, que ouviu isto, correu para casa assombrado, e foi contar ao senhor que o não quiz acreditar, até que o negro instou tanto que elle mesmo veiu, e mandando o negro metter a fouce, tambem ouviu a cantiga do fundo da terra. Então mandou cavar n'aquelle logar e encontrou as suas duas filhas ainda vivas por milagre de Nossa Senhora, que era madrinha d'ellas. Quando chegaram em casa acharam a mulher morta por castigo.




XVII


O Papagaio do Limo Verde


(Sergipe)

Uma vez havia, n'um logar retirado d'uma cidade, uma velha que tinha tres filhas: uma de um só olho, outra de dous, e outra de tres. Perto da casa da velha havia uma outra casa, onde morava uma moça muito bonita. Por esta moça namorou-se o principe real do reino do Limo Verde, que a visitava todas as noites, e lhe estava dando muitas riquezas. A velha visinha entrou a desconfiar d'aquellàs riquezas, e, uma vez por outra, ia á casa da moça para ver se pilhava alguma cousa, e nada…

Uma vez sua filha mais velha, que tinha três olhos, lhe disse: «Minha mãi, me deixe ir passar a noite na casa da visinha que eu descubro o segredo.» A velha concordou, e a moça dos três olhos foi. Chegando lá disfarçou: «Ó visinha, ha muito tempo que não lhe vejo; vim hoje passar a noite com você.» — «Pois não, visinha! a casa está ás ordens,» respondeu a bella namorada. Quando foi na hora de irem dormir, a dona da casa deu á sua companheira, em logar de chá, uma dormideira. A moça dos tres olhos ferrou no somno como uma pedra; roncou toda a noite e não viu nada.