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— Pede ao teu peixinho que te faça um moço muito perfeito e muito esperto.

O parvo ficou logo mais formoso que todos os principes, casou com a filha do rei, e pela sua grande esperteza ficou governando.

(Algarve.)



27. O FIGUINHO DA FIGUEIRA

Era uma vez um homem que tornou a casar, e tinha uma filha do primeiro casamento que era tratada pela madrasta mal a mais não poder. Tinham uma figueira lampa no quintal, para onde a madrasta mandava a enteada guardar os figos por causa da passarada. Quando a pequena ia para o campo, a madrasta seguia-a tambem para contar os figos, dizendo-lhe que a matava se lhe faltasse algum. Um dia veiu o milhano e comeu tres figos, por mais que a pequena o enxotasse. Quando estava já a anoitecer a madrasta veiu revistar a figueira, e deu pela falta de trez figos. Logo ali matou a enteada e a enterrou debaixo da figueira, e veiu para casa dizendo que a rapariga tinha fugido. O pae pensou que ella teria ido servir para alguma casa longe. Um dia que o pae passava por debaixo da figueira, ficou pasmado de ver debaixo d’ella muitas flores, e entre ellas um lindo botão de rosa. Foi para as colher, mas sentiu uma voz, a dizer-lhe:

Não me arranquem os meus cabellos,

Que minha mãe os creou,

Minha madrasta m’os enterrou

Pelo figo da figueira

Que o milhano levou.

Ao principio o homem ficou sem saber o que havia de fazer; mas por fim resolveu-se a fazer uma cova n’aquelle logar, para vêr que cousa era. Depois de estar já bem