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32. O PRINCIPE QUE FOI CORRER SUA VENTURA

Havia n’uma terra um rei que tinha um filho, que não fazia senão pedir-lhe para ir correr o mundo; o rei por fim não pôde mais ter mão, e deu-lhe um grande sacco de dinheiro para a partida. Depois de ter andado muito, foi dar a uma estalagem onde encontrou um outro viajante. Conversaram, mas o viajante perguntou ao principe se não gostava de jogar; d’ahi a instante já estavam ferrados ao jogo. O viajante ganhou-lhe o sacco de dinheiro, e não tendo mais que lhe ganhar, propôz-lbe que jogassem mais uma vez, e no caso do principe ganhar tornava a dar-lhe o sacco de dinheiro, e no caso de perder o principe ficaria preso por trez annos n’aque1la casa, e o serviria como criado por mais outros trez. O principe aceitou a proposta, jogou e perdeu. O viajante tomou conta d’elle, prendeu-o em uma loja, e deu-lhe pão e agua de um dia para trez annos.

O principe chorava a sua má cabeça; ao fim de trez annos vieram soltal-o, e elle pôz-se a caminho para ir para casa do viajante, que era rei, servil-o como criado. Depois de ter andado muito, encontrou uma mulher com uma criancinha ao collo a chorar com fome. O principe ainda levava o resto de uma codinha de pão e um escorropicho de agua e deu tudo á mulher. Ella em agradecimento disse-lhe:

— Olhe, santinho, vá você sempre andando, e quando lhe vier um cheiro muito grande, é porque está perto de um jardim que está no caminho; entre para dentro, e vá-se esconder ao pé do tanque. Então hãode vir trez pombas tomar banho, e á ultima que se despir tire-lhe o vestido de pennas e não lh’o torne a dar senão em troca de trez cousas que ella lhe der. Aconteceu tudo como a