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mulher lhe tinha dito; apanhou o vestido de pennas da pombinha, e ella para o tornar a ter deu-lhe um annel, um collar e uma penna, dizendo-lhe:

— Quando te vires em alguma afflicção e disseres: — «Valha-me aqui a pomba», heide-te acudir; eu sou a filha do rei que vás servir, que tem uma grande raiva a teu pae; e que te ganhou tudo ao jogo para dar cabo de ti.

O principe apresentou-se em casa do rei, que lhe deu logo esta ordem:

— Toma este trigo, este milho e esta cevada para semeares, comtanto que eu ámanhã coma pão d’estas trez qualidades.

O principe ficou espantado, mas o rei não quiz saber de explicações; foi elle para o seu quarto todo atrapalhado da sua vida, e pega na penna dizendo:

— Valha-me aqui a pomba!

A pomba appareceu, e ficou sabendo tudo; e ao outro dia trouxe-lhe as trez qualidades de pão para o principe ir entregar ao rei. Quando o rei viu cumpridas as suas ordens, disse-lhe:

— Pois bem; já que foste capaz d’isto, vae agora ao fundo do mar buscar o annel que a minha filha mais velha lá perdeu.

Voltou o principe para o quarto e tornou a chamar pela pombinha; ella acudiu:

— Olha, ámanhã vae para a praia e leva uma bacia e uma faca e mette-te n’um barco.

Assim fez; a pomba metteu-se com elle no barco e foi por esses mares fóra. Já tinham andado muito, quando ella disse que lhe cortasse a cabeça, de modo que não cahisse uma gota de sangue no chão, e a atirasse para o mar. Seguiu tudo á risca. Passado pouco tempo sahiu do mar uma pomba com um annel no bico, largou-o na mão do principe e foi lavar-se no sangue que estava na bacia; tornou-se na cabeça de uma bella donzella e depois tornou a desapparecer. O principe foi en-