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Tantas vezes se repetiu isto, que o vieram a saber, e foram dizer ao rei, o qual mandou enviscar as arvores e apanharam a pomba. Indo o rei fazer-lhe festas, achou dois alfinetes na cabeça e puchou; ella tornou-se na verdadeira rainha. O rei obrigou as duas feiticeiras a tornarem os bois nas duas irmãs, que eram suas cunhadas; assim fizeram, e depois mandou-as rolar ás duas feiticeiras n’umas pipas de pregos. E o rei e a rainha foram muito felizes d’ali por diante.

(Ilha de S. Miguel—Açores.)



37. LINDA BRANCA

Havia um homem muito rico, que era viuvo e tinha uma filha muito formosa chamada Linda Branca; tinha ella muita pena de ser tão bonita, porque todos a queriam. Pediu ao pae que lhe désse um vestido azul e cinzento; o pae deu-lh’o. Depois pediu lhe désse um vestido azul e prateado. Teve logo o vestido. Tornou a pedir outro azul e doirado; o pae fez-lhe a vontade. Tinha Linda Branca uma vara de condão, e ella pediu-lhe que a fizesse feia n’aquelle mesmo instante. Ella vestiu uma peliça e uma mascara muito feia, e foi d’ali para fóra servir de criada. Chegou a um palacio aonde n’aquelle tempo morava um rei, que era solteiro, e ficou por criada. Os moradores da cidade juntaram-se para fazerem uma grande festa que durava trez dias. Linda Branca pediu á rainha licença para ir áquellas festas. A rainha disse:

— Pede ao rei meu filho, que elle só governa.

Ella foi pedir licença ao rei quando estava calçando as botas. Elle lhe disse:

— Olha que te atiro com esta bota.

Depois que o rei foi para a festa, Linda Branca disse:

— Minha vara do condão, põe-me prompto um carro e preparos para ir á festa.