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lacio, a rainha mãe disse-lhe o mesmo que no dia antecedente.

Terceiro dia, o rei espreitou e então viu a mesma senhora da vespera, com o vestido azul e enramado de oiro. Correndo com grande pressa apanhou Linda Branca com uma pequena borda do vestido dourado de fóra e diz:

— Eu te ordeno que dispas este fato.

Ella obedeceu, e então o rei pôde vêr a senhora de que tanto gostava no dia da festa. Linda Branca contou o motivo de tudo aquillo, e trez dias duraram as festas do casamento.


Quem o disse está aqui

Quem o quer saber vá lá,

Sapatinhos de manteiga

Escorregam mas não cahem.


(Ilha de S. Miguel—Açores.)



38. O REI-ESCUTA

Havia um rei, que tinha por costume andar escutando pelas portas, pelo que lhe chamavam o Rei-Escuta. Uma noite elle foi escutar a uma porta e ouviu dizer:

— O que eu queria era casar com o padeiro do rei, para comer sempre pão fresco.

Outra voz dizia:

— Não sejas tola; eu o que queria era casar com o cosinheiro do rei, para comer guisados muito afamados.

E outra voz disse:

— Pois o que eu queria era casar com o Rei-Escuta.

O rei ouviu tudo aquillo e foi-se embora. No dia seguinte mandou chamar as raparigas d’aquella casa, e perguntou á mais velha:

— Então, queres casar com o meu padeiro?

Respondeu que sim. Chamou a segunda, e fez a mes-