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ma pergunta a respeito do cosinheiro. Ella disse que sim. Chamou por fim a mais moça:

— Então queres casar commigo?

— Sim senhor, disse isso!

O rei mandou casar as duas raparigas com o padeiro e o cosinheiro, e a mais moça casou com elle. As irmãs ficaram logo com muita inveja, e metteram enredos ao rei, que a ia mandar deitar ao mar; mas os criados descobriram-lhe tudo, e elle ficou vivendo muito feliz com a sua mulher e nunca mais quiz saber das cunhadas, que foram para o meio da rua.

(Ilha de S. Miguel—Açores.)



39. AS CUNHADAS DO REI

O rei andava de noite pelas ruas acompanhado do seu cosinheiro e do seu copeiro disfarçado, escutando pelas portas; passou por um balcão onde estavam tres meninas, que estavam conversando, e pôz-se á escuta do que diziam:

— Ali vão tres tunantes; se um fosse o rei, já eu sabia quem eram os outros.

— Um era o cosinheiro. Quem me a mim dera casar com elle; sempre havia de comer bons fricassés.

— O outro era o copeiro; pois eu cá o que queria era casar com elle, porque havia de ter bons licores.

Disse a mais nova:

— Eu não sei quem elles são; mas ainda que fossem condes ou duques, antes queria casar com o rei, porque lhe havia de dar tres meninos cada um com a sua estrella de ouro na testa.

O rancho foi-se embora, mas ao outro dia, o rei mandou ir á sua presença as tres irmãs. Perguntou-lhes se era verdade o que ellas tinham dito na vespera á noite. Respondeu a mais velha por si. Disse o rei: