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cerem muito tristes. Pediu a menina mais nova a seu pae que a escutasse; contou o que era passado e como se tinha livrado dos ladrões. O mercador chamou então as filhas e disse:

— D’aqui por diante daremos obediencia a sua irmã mais moça; eu com ser seu pae, farei o que ella determinar, porque venho a conhecer que vos livrou da morte e de ficarmos desgraçados.

Quando, por fim de muitos annos, o capitão dos ladrões, que tinha mandado fazer uma mão de ferro com engonços e andava de luvas, vestido como qualquer senhor, estabeleceu um armazem defronte da casa do mercador. Ora um dia o mercador, por lhe parecer boa pessoa convidou-o para elle ir lá jantar. Elle acceitou de boa vontade, e as meninas ficaram satisfeitas do pae convidar tão bom visinho. A mais nova é que ficou muito triste, e o pae lhe perguntou o que era. A menina respondeu que não gostava que o pae convidasse o tal senhor para vir a sua casa. Chegou a hora do jantar e foram para a meza; as duas outras irmãs, já se sabe, muito contentes. Houve uma conversa, e n’este mesmo tempo o visinho pediu em casamento a menina mais nova ao pae. O mercador ficou muito satisfeito e disse que sim; mas a menina respondeu:

— Aqui o desengano, pae, que com elle não quero casar.

O visinho ficou aborrecido, e pediu a mais velha, que ficou muito contente, e elle começou a dizer os bens que tinha, e que morava em uns palacios longe da cidade. Chegou o dia do casamento, despediu-se a menina mais velha, e montou no carro mais o marido para fóra da cidade. Lá no meio da estrada elle apeou-se, mais a mulher, pagou ao bolieiro para não saber onde elle morava. Foram andando até que chegaram a umas casas mettidas n’uns mattos. Assim que a sua companhia o avistou, vieram com seus oiros e joias offerecer á senhora, dizendo