elle que era a sua mulher. Entrou com ella para um quarto, e lhe deu um papel para escrever uma carta a seu pae, que elle notou, dizendo que estava muito satisfeita com vêr tanta riqueza e que mandava buscar uma de suas irmãs para estar uns dias em sua companhia. Acabada a carta, que elle arrumou, tirou então a luva e a mão de ferro e mostrou-lhe o braço maneta, dizendo:
— Conheces quem me fez isto?
Ella respondeu-lhe que não.
— Bem sei que não tens culpa, mas o pagarás e tuas irmãs tambem.
Acabado isto pegou na espada e degolou-a. No fim de uns dias levou a carta ao sogro, que a sua mulher lhe mandava, e o pae leu-a, e disse á filha do meio que fosse. O ladrão levou-a comsigo, fez com que ella escrevesse uma carta para vir a mais moça, e depois de a degolar, veiu com a carta. O pae mandou a ultima filha que tinha em casa; ella não queria ir, mas para não desobedecer sempre se resolveu. Foi com o cunhado, que no meio da estrada a fez apear, e depois de irem a pé por muito tempo, descalçou a luva e mostrou-lhe a mão, dizendo:
— Tuas manas já pagaram; agora é a tua vez.
Chegaram a casa; os ladrões appareceram-lhe todos, e elle disse:
— Façam de conta que é minha irmã.
Pôz ao pescoço da menina uma pêra de oiro, e disse:
— Podes ir a todos os quartos d’este palacio, menos a este.
Partiu com a quadrilha, mas assim que voltou costas, a menina tirou a pêra do pescoço e foi ao quarto dos mortos. Viu lá um menino principe todo esfaqueado, que lhe disse:
— Esta casa é um covil de ladrões; o que faz a menina por aqui? Olhe que elles estão ahi a chegar.
A menina fechou outra vez tudo; botou a pêra ao pescoço, e n’isto chega o cunhado.