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Partiu o ladrão, e mandou despejar o carro do meio; mas não achou ninguem. Diz outra vez o feiticeiro:

— Vae lá, que elles passaram-se para o carro da frente.

Mas os carros chegavam já ao palacio e escaparam os meninos. O rei ficou muito contente por ter tornado a encontrar o seu filho, e soube da menina tudo desde a mão do finado até dar a vida ao principe, que quiz logo casar com ella. O rei deu o sim, e no dia das festas do casamento veiu um dos ladrões com obras de oiro, entrou para a egreja que estava preparada, e abriu uma sacca, e dizia com ár de tolo:

— Tão bonito! tão bonito!

Appareceu ali um vassallo e disse:

— Quando você se admira d’isto, que seria se visse a camera real.

Disse o que se fingia tolo:

— Eu dava todas estas obras de oiro a quem me levasse lá.

O vassallo offereceu-se, e o ladrão no meio de tanta gente sumiu-se e metteu-se debaixo da cama sem o vassallo vêr. Casaram-se os principes, e foram para a camera real; a princeza com uma grande agonia não podia dormir, e não se quiz deitar.

Diz o principe:

— Deita-te, que os ladrões não podem vir aqui matar-nos.

— O meu coração me diz que mesmo aqui me hãode vir matar.

O principe levantou-se, chamou uma sentinella para fóra da porta e um leão para a borda da cama. O leão mal entrou começou a farejar para debaixo da cama; a menina levantou-se e foi vêr aonde o leão estava dando signal. Chamou o principe para vêr um dos ladrões que os tinham querido matar. Acudiu a sentinella, que fez sahir o ladrão que ainda fingia de tolo, dizendo:

— Tão bonito! tão bonito!