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pegou n’ella com toda a riqueza que trazia; metteram-se no escaler e partiram.

O pobre do principe ficou ali até amanhecer. Quando acordou julgou que a princeza o tinha enganado, e foi para outra terra, e quando lá chegou começou outra vez a dar esmolas aos pobres, para descobrir por algum se o rei de Napoles tinha alguma filha.

A princeza, quando amanheceu, que se viu com aquelle homem, disse comsigo:

— A primeira vista não é vista; mas isto não é o principe meu senhor.

O ladrão do homem como a via desgostosa perguntou-lhe:

— Sabe a menina com quem vae?

— Com o principe meu senhor.

— Pois saiba que vae com um ladrão.

A princeza começou a chorar, e foram andando, andando e chegaram lá a uma terra chamada das Junqueiras.

Elle varou a lancha, deixou ficar ali a princeza e foi-se embora; havia ali só uma mulher viuva com a sua filha.

A princeza ficou a chorar muito n’aquelle escampado, por se vêr sósinha, e tudo isto era de noite. Disse a filha á mãe:

— Estou ouvindo chorar, e parece-me ser mulher.

— Não, filha; isso podem ser os ladrões, para nos enganarem e virem roubar-nos.

Tornou a dizer a filha :

Será o que Deus quizer;

Mas aquelle chorar é de mulher.


Foram ambas, e deram com a princeza, que ellas não conheciam, e tomaram-na para a sua companhia.

O principe continuava a dar esmolas aos pobres, e perguntava a todos se o rei de Napoles tinha alguma filha. Todos diziam que não, que nunca o tinham ouvido.