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Afinal foi lá um velho e fez-lhe esmola, e repetiu a pergunta do costume; o velho respondeu:

— Se o senhor soubesse o que eu passei com ella! sempre se havia de rir um bocado.

O principe pucha uma cadeira e senta o velho ao pé de si. O velho contou:

— Eu vinha um dia do jogo das tábolas, e passei pelo palacio do rei; estava lá n’uma esquina um cavalleiro dormindo, por signal com um cotovello na sella do cavallo; fui ao pé d’elle para vêr se o conhecia, e a este tempo ouvi dizer: «Vamos, vamos, que já está o escaler na agua á nossa espera.» E foi contando timtim por timtim o caso do roubo da princeza até a ir deitar na terra das Junqueiras.

Assim que chegou a este ponto, o principe não se teve em si, pucha de um punhal e crava-o na cabeça do velho e matou-o. Os outros velhos que estavam ali, gritaram logo:

— Aqui d’el-rei, que mataram o nosso irmão.

Acudiu logo a justiça para levarem o principe para o Limoeiro; chegou o dia em que ia a enforcar, e elle pediu mais uma hora de vida. Chamou um dos homens que ali estava, que fosse ao palacio pedir ao rei um livro de pastas vermelhas, que estava á cabeceira do principe. O rei assim que ouviu isto deu-lhe um baque o coração, e conheceu que só o principe é que podia fazer aquelle pedido. E como já ha muitos annos andava ausente do reino, foi vêr se seria elle; metteu-se na carruagem e foi ter com elle, e trouxe logo para o palacio o filho, que lhe contou todos os seus trabalhos:

— Agora, meu pae, dê-me licença para ir á terra das Junqueiras buscar a princeza.

O pae mandou apromptar uma das melhores náos, e o principe assim que chegou á terra das Junqueiras viu uma casinha, e bateu, e quem lhe veiu fallar foi a dona. As perguntas do principe, disse que morava ali com duas