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Elle foi para diante, e partiu uma das nozes. Saiu uma menina muito linda, que lhe pediu agua. Como elle não tinha agua, ella morreu. Mais para diante, partiu outra noz; succedeu o mesmo, não haver agua e a menina morreu. O principe prometteu a si mesmo de não tornar a partir a ultima senão ao pé da agua. Chegando a uma fonte, partiu a derradeira noz; saiu uma menina, que lhe pediu agua, elle deu-lh'a e a menina viveu. O principe muito contente levou-a comsigo até ao jardim do palacio do rei seu pae, e ahi a metteu entre a ramada de uma arvore, que tinha uma fonte por baixo, e foi-lhe buscar vestidos para a trazer para a côrte. Uma preta vinha á fonte com um pótinho de barro e viu na agua a cara da menina; pensando ser a sua cara, quebrou o pote dizendo:

— Uma cara tão linda não vem á fonte!

A mãe batia-lhe, e ella repetia sempre o mesmo; a mãe chamava-lhe tola, até que lhe deu um odre para ir á fonte, porque assim não o quebrava. A preta foi, e lavou a cara, e olhando para cima viu a menina, e foi a casa chamar a mãe. A mãe veiu e perguntou á menina como é que ella tinha ido para ali. Ella contou, e a mãe chamou a menina e começou a dar-lhe matadellas na cabeça, e vae senão quando mette-lhe dois alfinetes reaes nas fontes, d'onde a menina se tornou em pombinha branca e voou por esses áres fóra. A preta pôz a filha no logar da menina; veiu o príncipe e ficou espantado de a vêr tão negra. Ella respondeu-lhe:

— Os ardores do sol, o vento e a chuva me enegreceram.

O principe ficou pelo que ella dizia, levou-a para o palacio, e estava já para recebel-a, quando lhe veiu uma grande doença, que não lhe sabia nada com fastio. O jardineiro viu uma pombinha, que fallava e dizia:

Eu ando de galho em galho,

De flôr em flôr,

Ai que dôr!