palacio para ir buscar roupas e leval-a para a côrte, como sua desposada. Emquanto o principe se demorou, a menina olhou d’entre os ramos onde estava escondida, e viu vir uma preta para encher uma cantarinha na agua; mas a preta vendo figurada na agua uma cara muito linda, julgou que era a sua propria pessoa, e quebrou a cantarinha dizendo:
— Cara tão linda a acarretar agua! não deve ser.
A menina não pôde conter o riso; a preta olhou, deu com ella, e enraivecida fingiu palavras meigas e chamou a menina para ao pé de si, e começou a catar-lhe na cabeça. Quando a apanhou descuidada, metteu-lhe um alfinete n’um ouvido, e a menina tornou-se logo em pomba. Quando o principe chegou, em vez da menina achou uma preta feia e suja, e perguntou muito admirado:
— Que é da menina que eu aqui deixei?
— Sou eu, disse a preta. O sol crestou-me emquanto o principe me deixou aqui.
O principe deu-lhe os vestidos e levou-a para o palacio, onde todos ficaram pasmados da sua escolha. Elle não queria faltar á sua palavra, mas roia calado a sua vergonha. O hortelão, quando andava a regar as flôres, viu passar pelo jardim uma pomba branca, que lhe perguntou:
«Hortelão da hortelaria,
Como passa o rei
E a sua preta Maria?
Elle, admirado, respondeu:
— Comem e bebem,
E levam boa vida.
«E a pobre pombinha
Por aqui perdida!
O hortelão foi dar parte ao principe, que ficou muito maravilhado, e disse-lhe: