Disse o da bengala:
— Oh homem! você como se chama?
— Eu sou o Arrasa-Montanhas; mas olhe que ha um homem mais valente do que eu, chamado o Bengala de dezeseis quintaes, que eu ainda dava alguma cousa para vêl-o.
O rapaz ensarilhou no ár a bengala, e ficaram todos trez conhecidos. Combinaram ir por esse mundo, e do que arranjassem repartirem-no entre si. Foram dar a uma praia muito linda, onde estavam duas raparigas a banharem-se; ora o Bengala de dezeseis quintaes viu que ellas atiravam uma para a outra duas bolas de vidro, que se atravessavam no ár. E emquanto estavam n’este jogo, elle foi-se chegando surrateiro, estendeu a mão e apanhou de uma só vez as duas bolas de vidro. Metteu-as na algibeira, e as duas raparigas desappareceram.
Foram-se os trez amigos andando, e chegaram lá a um escampado, onde estavam umas casarias; entraram. Havia muita mobilia, camas, cosinha, mas não apparecia ninguem. Disse o da Bengala de dezeseis quintaes:
— Fiquemos aqui a descançar. Mas o melhor era irem vocês ambos apanhar alguma caça, emquanto eu vou cosinhar esta que trago aqui.
Os outros assim fizeram. Bengala de dezeseis quintaes amanhou os coelhos e lebres que trazia, pôz tudo ao lume, e emquanto foi buscar uma pedra de sal, sae-lhe debaixo de uma meza, por um alçapão, um moléquinho de bota vermelha, vae á panella, furta-lhe tudo e meija-lhe dentro. Bengala de dezeseis quintaes ainda agarrou n’uma acha para o arranjar, mas o moléquinho safou-se, que foi um alho. Quando os companheiros vieram, elle contou-lhe tudo, mas os outros não quizeram acreditar, dizendo que elle se tinha regalado com a comida. Disse elle:
— Pois fique agora o Arranca-Pinheiros cosinhando esta caca, que nós vamos apanhar mais.