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O filho mais moço tambem era esperto; encontrou no seu caminho um homem que levava ás costas uma cacheira. N’isto vieram uns ladrões sahir-lhe â estrada, e elle disse:

— Desanda, cacheira!

O páo começou logo no ár a despedir pancadas para a direrta e para a esquerda, e os ladrões ficaram estendidos com pernas, cabeças, braços quebrados, que era um louvar a Deus. Os dois companheiros foram andando; vae o rapaz, e diz-lhe:

— Quer você vender-me a sua cacheira?

— Só se me deres todo o dinheiro que levas.

O rapaz deu-lhe tudo quanto o pae lhe tinha dado para arranjar a sua felicidade. Voltou para casa muito contente com a cacheira ás costas. O pae assim que o viu, perguntou-lhe:

— Então o que é que trazes, que sejas tão feliz como teus irmãos?

— Comprei esta cacheira com o dinheiro que levei.

E contou o poder que tinha a cacheira. O pae pôz-se a rir, e disse que não admirava que elle se deixasse enganar porque era muito criança; e que a cacheira não servia para nada. O rapaz andava triste.

Havia uma grande festa na egreja da terra, e o irmão mais velho foi lá; como andava sempre com a toalha, temendo que ella perdesse o encanto, deixou-a á porta a uma velha que lh’a guardasse, recommendando-lhe que não dissesse: «Põe-te, meza!»

Se bem o disse, peior o fez a velha; e vendo logo apparecer uma rica meza pósta, foi a toda a pressa esconder a toalha. Veiu tambem á festa o irmão do meio, e trazia comsigo a burra, e deu-a a guardar á velha, recommendando-lhe que tivesse mão n’ella, e que não dissesse: «Mija dinheiro!» Mal virou as costas, a velha disse as palavras, e começou a correr da burra dinheirama a rôdo. A velha safou-se com a burra.