A rainha ficou muito desesperada, e deu-lhe ordem que fosse logo para casa, e que as matasse, sem ficar nenhuma, e que não queria mais gallinhas que fallassem. E deu-lhe muito dinheiro, para que a mulher não dissesse a ninguem o que tinha acontecido, e que quando tivesse alguma necessidade viesse a palacio, que a ajudaria. Foi assim que a velha conseguiu arranjar meio de casar as suas filhas, a quem a rainha deu muitos bons dotes.
(Algarve.)
Um pobre homem estava a trabalhar no mato, a cortar lenha para ir vender pela villa e assim sustentar mulher e filhos. De repente viu ao pé de si dois sujeitos, bem vestidos, que lhe disseram:
— Nós sômos a Fortuna e a Riqueza. Vimos-te ajudar.
Cada um queria acudir de preferencia ao pobre homem, e altercavam entre si. Dizia a Riqueza:
— Eu só por mim o faço feliz; sendo elle rico tem tudo.
— Pois mesmo sem ser rico, eu dando-lhe fortuna, faço-lhe maior beneficio. Senão experimentemos.
A Riqueza virou-se para o pobre do homem e disse:
— Toma lá este cruzado novo; ámanhã compra carne, pão e vinho e não trabalhes n’esse dia.
O homem foi-se embora contentissimo para casa; no outro dia foi ao açougue. Deu ao magarefe o dinheiro adiantado, mas como estava um grande barulho de gente no açougue, o carniceiro negou que lhe tinha dado o dinheiro, e o pobre homem resignou-se e foi outra vez trabalhar para o mato.
A Riqueza tornou a chegar-se ao pé d’elle, e quando soube de que lhe servira o cruzado novo, ficou zangada e deu-lhe uma bolsa cheia de dobrões. O homem voltou