Um lavrador rico tinha só uma filha, que era muito linda; uma noite fallando com a sua mulher, quando já estava tudo socegado em casa, disse-lhe:
— A nossa filha já está casadoura, e nós temos uns bens bons, que hãode ficar para ella, e faz minga de lhe dar um marido que seja capaz.
— Ora quem hade ser? Disse a mulher.
— Eu já cá tenho um de olho. É o filho d'aquelle lavrador que mora ali ao cabo da villa.
— Lá esse tambem me parece bom rapaz, e não tenho que lhe dizer.
A rapariga, que ainda estava acordada, ouviu tudo, e no outro dia quando o pae e a mãe estavam no campo a apanhar os feijões, pôz-se á janella e quando viu passar o noivo, disse:
— Entra cá, Manoel. Sabes que mais? meu pae quer-me casar comtigo.
O rapaz entrou para dentro, e disse:
— Tambem eu quero; e então vamos a isso.
A rapariga era babana e esteve pelos autos. Quando elle se foi embora, a rapariga foi levar o jantar ao campo, e disse muito contente:
— Meu pae, eu já casei com o filho do lavrador do cabo da villa.
O pae ficou muito admirado, e assim que soube a verdade do acontecido, pôz-se a berrar desesperado, e quiz-lhe bater. No dia seguinte, ella pôz-se muito triste á janella, e assim que viu passar o rapaz chamou por elle:
— Entra cá, Manoel. Meu pae não gostou do nosso casamento, e então é preciso que a gente se descase.
— Vamos a isso. As coisas desfazem-se do mesmo feitio que se fazem.