Tornou a rapariga ao campo a levar o jantar e contou tudo ao pae, que já se tinha descasado. Elle ficou ainda mais desesperado e d'esta vez bateu-lhe a valer. Quando foi fallar com o lavrador a respeito do casamento da filha, já o rapaz estava embeiçado com outra, e com o casamento ajustado. A moça não ficou triste nem alegre, e esperou o dia do casamento. Ora n'aquella terra era costume de darem um jantar em casa do padrinho antes dos noivos se irem arreceber; quando estavam á mesa, appareceu a moça que se tinha descasado, muito aceiada, com todo o ouro que tinha, e pegou n'um copo e fez uma saude, dizendo:
Venho aqui brindar
O noivo que se casa
E torna a descasar.
E repetia isto a todo o proposito. A noiva que ouviu, perguntou ao rapaz o que é que queria aquillo dizer? Elle contou-lhe tudo; vae ella e diz:
— Sempre é muito tola, não é? Eu cá trago um filho do nosso abbade, e nem meu pae nem minha mãe o sabem.
O rapaz cahiu em si a tempo; e disse para os convidados:
— Meus senhores, quero-lhes fazer uma pergunta: Quem tinha uma chave de ouro e a perdeu, e se serve com uma de prata, se tornar a achar a de ouro deve deital-a fóra?
Responderam os convidados:
— Deve querer antes a chave de ouro.
— Pois é o que eu faço.
E o filho do lavrador sahiu pela porta fóra e foi tratar de se receber com a rapariga innocente de que a ressabiada tinha feito chacota.
(Minho — Airão.)