nhos aos gritos da mulher, que fingia que se lamentava. Assim que entraram no quarto, o velho ainda fallava, mas só dizia o resto das phrases que tinha ouvido:
— Tudo… a minha mulher… Come… Tudo a minha mulher.
Disse ella para os visinhos:
— Sejam boas testemunhas, que meu marido diz que deixa tudo á sua mulher.
O velho morreu com a bocca retorcida, e a mulher levantou-se com tudo o que havia em casa, e os parentes do velho ficaram a chuchar no dedo.
(Porto.)
Um pobre rapaz tinha casado, e para arranjar a sua vida logo ao fim do primeiro anno teve de ir servir uns patrões muito longe. Elle era assim bom homem, e pediu ao amo que lhe fosse guardando na mão o dinheiro das soldadas. Ao fim de uns quatro annos já tinha um par de moedas, que lhe chegava para comprar um eidico, e quiz voltar para casa. O patrão disse-lhe:
— Qual queres, trez bons conselhos que te hãode servir para toda a vida, ou o teu dinheiro?
— Elle, o dinheiro é sangue, como diz o outro.
— Mas podem roubar-t'o pelo caminho e matarem-te.
— Pois então venham de lá os conselhos.
Disse-lhe o patrão:
— O primeiro conselho que te dou é que nunca te mettas por atalho, podendo andar pela estrada real.
— Cá me fica para meu governo.
— O segundo, é que nunca pernoites em casa de homem velho casado com mulher nova. Agora o terceiro vem a ser: Nunca te decidas pelas primeiras apparencias.