O rapaz guardou na memoria os trez conselhos, que representavam todas as suas soldadas; e quando se ia embora, a dona da casa deu-lhe um bolo para o caminho, se tivesse fome, mas que era melhor comel-o em casa com a mulher, quando lá chegasse. Partiu o homemsinho do senhor, e encontrou-se na estrada com uns almocreves que levavam uns machos com fazendas; foram-se acompanhando e contando a sua vida, e chegando lá a um ponto da estrada, disse o almocreve que cortava ali por uns atalhos, porque poupava meia hora de caminho. O rapaz foi batendo pela estrada real, e quando ia chegando a um povoado, viu vir o almocreve todo esbaforido sem os machos; tinham-no roubado e espancado na quelha. Disse o moço:
— Já me valeu o primeiro conselho.
Seguiu o seu caminho, e chegou já de noite a uma venda, onde foi beber uma pinga, e onde tencionava pernoitar; mas quando viu o taverneiro já homem entrado, e a mulher ainda frescalhuda, pagou e foi andando sempre. Quando chegou á villa, ia lá um reboliço; era que a justiça andava em busca de um assassino que tinha fugido com a mulher do taverneiro que fôra morto n'aquella noite. Disse o rapaz lá comsigo:
— Bem empregado dinheiro o que me levou o patrão por este conselho.
E picou o passo, para ainda n'aquelle dia chegar a casa. E lá chegou; quando se ia aproximando da porta, viu dentro em casa um homem, sentado ao lume com a sua mulher. A sua primeira ideia foi ir matar logo ali a ambos. Lembrou-se do conselho, e curtiu comsigo a sua dôr, e entrou muito fresco pela porta dentro. A mulher veiu abraçal-o, e disse:
— Aqui está meu irmão, que chegou hoje mesmo do Brazil. Que dia! e tu tambem ao fim de quatro annos!
Abraçaram-se todos muito contentes, e quando foi a ceia para a meza, o marido vae a partir o bolo, e appa-