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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/269

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Agora responderam os visinhos:

Quem o é, e consente
É bem que lh'o chamem sempre;
Quem não consente e não sabe
Deus tenha d'elle piedade.

(Ilha de S. Miguel — Ponta Delgada.)




109. OS DOIS IRMÃOS
E A MULHER MORTA

Eram dois irmãos, um rico, e o outro pobre; casaram, mas o pobre tinha muitos filhos, e o rico nenhum. Estavam de mal um com o outro, por intrigas da mulher do que era rico, que se envergonhava d'aquelles cunhados, e demais a mais compadres. Vae de uma vez o rico trazia umas manadas no campo, e uma rez transviou-se e foi cahir n'um barrocal e lá ficou morta. Os filhos do pobre quando vieram do matto foram contar o caso á mãe:

— Pois ide lá ao barrocal buscar o novilho, porque assim sempre teremos que comer.

Os rapazes foram, fizeram-no em postas e trouxeram tudo para casa. A mulher do rico desconfiou, e disse ao marido que fosse a casa do irmão saber como aquillo era.

— Como é que heide ir lá? Bem sabes que estou de mal com meu irmão, desde as partilhas. E de mais como é que se póde saber se foram os meus sobrinhos que espostejaram o novilho?

— Pois juro que foram os teus sobrinhos que roubaram a carne; foram, e sou eu que heide pôr tudo em pratos limpos.

— Não sei de que feitio.

— Não sabes? Pois mette-me n'este caixão, deixa-lhe um buraco para eu espreitar, e vae a casa de teu irmão pedir para o guardar.