Agora responderam os visinhos:
Quem o é, e consente
É bem que lh'o chamem sempre;
Quem não consente e não sabe
Deus tenha d'elle piedade.
(Ilha de S. Miguel — Ponta Delgada.)
Eram dois irmãos, um rico, e o outro pobre; casaram, mas o pobre tinha muitos filhos, e o rico nenhum. Estavam de mal um com o outro, por intrigas da mulher do que era rico, que se envergonhava d'aquelles cunhados, e demais a mais compadres. Vae de uma vez o rico trazia umas manadas no campo, e uma rez transviou-se e foi cahir n'um barrocal e lá ficou morta. Os filhos do pobre quando vieram do matto foram contar o caso á mãe:
— Pois ide lá ao barrocal buscar o novilho, porque assim sempre teremos que comer.
Os rapazes foram, fizeram-no em postas e trouxeram tudo para casa. A mulher do rico desconfiou, e disse ao marido que fosse a casa do irmão saber como aquillo era.
— Como é que heide ir lá? Bem sabes que estou de mal com meu irmão, desde as partilhas. E de mais como é que se póde saber se foram os meus sobrinhos que espostejaram o novilho?
— Pois juro que foram os teus sobrinhos que roubaram a carne; foram, e sou eu que heide pôr tudo em pratos limpos.
— Não sei de que feitio.
— Não sabes? Pois mette-me n'este caixão, deixa-lhe um buraco para eu espreitar, e vae a casa de teu irmão pedir para o guardar.