Um maluquinho trazia a cabeça rapada, e não podia supportar as picadellas das moscas; lembrou-se de apresentar uma queixa contra ellas ao juiz, que o attendeu para o disfructar. O juiz deu por sentença, que onde quer que visse uma mosca podia usar do direito de legitima defeza atirando-lhe uma pancada. O maluquinho confirmou a sentença fazendo que o juiz a repetisse. N'isto poisa uma mosca na cabeça do juiz; o tolo acerta-lhe uma pancada e o juiz cahiu para a banda. Prenderam-no, mas elle defendeu-se com a sentença, e não tiveram outro remedio senão mandal-o embora, porque lá diz o outro: Com tolos nem para o céo.
(Ilha de S. Miguel.)
Um fidalgo cahiu em pobreza, e ás vezes arrebentava com fome só para se não abaixar a pedir. Chegava a qualquer casa, e se lhe diziam por ceremonia:
— É servido de se utilisar? Ou: Quer fazer um pouco de penitencia comnosco? elle respondia:
— Já que tanto teima uma vez só, acceito.
E assim sem descer da sua dignidade tirava o ventre de miseria.
(Porto.)
Um frade passava todas as tardes rente da janella de uma mulher casada, e dizia-lhe:
— Tic-taco.
A mulher contou tudo ao marido, e elle disse: