— Havemos de dar uma lição boa ao frade. Quando elle tornar a passar e disser a mesma coisa, dize-lhe que póde entrar; depois eu começo a tossir, e tu esconde-o dentro de um sacco, que o resto vae por minha conta.
Ao outro dia o frade passou rentinho á janella, e já lusconfusco. Repetiu a gracinha:
— Tic-taco.
— Póde entrar.
Foi o que o frade quiz ouvir. A mulher fechou a porta e levou-o para dentro. N'isto o marido tossiu; ella finge-se atrapalhada:
— Ai, o meu marido que chegou! Metta-se vossa reverencia já aqui n'este sacco, ao pé d'estes outros que estão cheios de milho.
O frade metteu-se no sacco; a mulher atou-o e encostou-o aos outros que estavam cheios. Vem o marido o diz:
— Temos ladrões em casa, porque me avisaram e estão por ahi escondidos.
Começou a correr todos os cantos, e por fim exclamou:
— Não dou com elles; só se se esconderam dentro d'esses saccos.
E começou a dar pauladas nos saccos para a direita e para a esquerda, e o frade ia tambem apanhando a sua doze á chucha-callada.
— Assim como assim, não está cá ninguem. E foi-se embora.
A mulher de combinação, já se sabe, veiu tirar o frade do sacco, e elle safou-se como Deus quer e é servido. Passado tempo aconteceu passar elle pela mesma rua, e a mulher disse-lhe da janella:
— Tic-taco.
Respondeu o frade com cara arrenegada:
— Não sou gorgulho que vá ao seu sacco.
(Ilha de S. Miguel.)