Saltar para o conteúdo

Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/281

Wikisource, a biblioteca livre

gava muita praga e berrava na labutação da arada. O senhor saudou-o:

— Deus te salve, vida santa.

Foram para diante, e viram estar um ermitão a resar á porta da sua cabana. O senhor saudou-o:

— Deus te salve, vida de porco.

Sam Pedro ficou maravilhado e disse para Christo:

— Senhor! porque é que áquelle homem que praguejava, lhe chamastes vida santa, e áquelle que resava com tanta devoção lhe chamastes vida de porco?

— É porque aquelle que estava praguejando, trabalha, e sustenta a sua familia, e produz alimento para muita gente; e aquelle que está resando, não é util a ninguem e vive á custa das esmolas, que são o trabalho e a privação dos outros.

(Porto.)




124. O THESOURO ENTERRADO

Uns amigos tiveram noticia de um thesouro e combinaram ir antes do nascer do sol para o desenterrarem. Levantaram-se dois d'elles e foram pela porta do outro para o acordar; mas elle disse lá de dentro que não deixava o calor da cama por nada.

Os outros foram, acharam umas pedras afamadas, revolveram-nas, mas só encontraram castanhas de burro. Vieram-se embora estafados, e ao passarem pela porta do amigo, como lhe viram o postigo aberto, atiraram-lhe por pirraça com as castanhas para dentro de casa.

O hominho foi vêr o que era, e achou o chão alastrado de peças de ouro. Quando tornou a fallar com os amigos agradeceu a offerta, e quando lhes explicou o caso elles nunca quizeram acreditar.

( Airão.)