cas, anedocticas, e obras litterarias ou moraes. Na linguagem popular existem locuções demarcando as epocas da credulidade, taes como Quando as pedras fallavam, Quando Deus andava pelo mundo, e ainda um vago periodo historico, como o dos Tartaros para a Europa, e o tempo dos Mouros para a peninsula hispanica.
O fetichismo, como fórma espontanea da religião, representa tambem o estado do espirito humano na sua exclusiva concepção concreta; o homem anima todas as cousas, dá-lhes vontade propria, fal-as causas de si mesmas. Se esta capacidade se reflecte na linguagem pelas metaphoras arrojadas, e no symbolismo material que nos trouxe âs concepções abstractas, como o jus e a justiça, ella exerceu-se tambem pela narrativa novellesca da lucta das forças malévolas, e dos triumphos da argucia contra a ferocidade brutal. A antropophagia nos contos, o ardil do fraco, as cavernas dos ogres, e a cooperação dos objectos inanimados são os vestigios d’este período immensamente poetico do fetichismo, ainda persistente nas crianças e no povo. O fetichismo apresenta uma evolução na sua credulidade, começando pela crença animista e culto dos objectos inanimados (Manituismo), depois o culto dos corpos celestes (Sabeismo), e por fim o culto dos productos naturaes e cousas vivas (Totemistno). Nos contos populares ainda nos apparece o manitu na boneca que se agarra ou que dá riqueza, na cacheira que desanca; o sabeismo, em Tom Puce, Petit Poucet ou João Feijão representando uma estrella da Grande Ursa; o totem, que nos apparece nos nomes de Grillo, de Feijão, dos anões e ladinos tradicionaes, é a fava que se transforma em criança, é a raposa na sua lucta com o lobo, representando os conflictos das tribus fetichistas.
O conto, n’este periodo social e religioso, tem outras causas que provocam a sua invenção; é uma d’ellas o metaphorismo da linguagem. Quando a criança falla, ainda hoje mythifica. Max Müller queria considerar o mytho