ção portugueza dos versos do Arcipreste de Hita, e da Confissão do Amante de Gower, em que receberam fórma litteraria diversos contos da Edade-media. Na côrte de Dom Duarte prevaleceu o gosto dos contos com intuito moral, chamados estorias e exemplos; na sua obra o Leal Conselheiro, cita o conto da Manta e o chocalho, que parece popular pela persistencia do anexim: «O diabo tem uma manta e um chocalho.» Acham-se ali tambem o conto allegorico das Duas Barcas e o do Filho prodigo: «e a festa que fez o padre ao filho degastador, que confessando seu desfallecimento dizia nom sou digno seer chamado teu filho…»[1] O rei Dom Duarte condemnava a leitura dos livros de contos, que ella aponta como um vicio entre a aristocracia portugueza do seculo XV: «taaes leituras aos que de semelhantes non téem boo conhecimento mais som para serem ensinados que para despender tempo ou se desenfadar com o livro d'estorias, em que o entendimento pouco trabalha por entender ou se nembrar.»[2] Fernão Lopes, o nosso grande chronista, empregava a palavra estoria no sentido de tradição, tal como ainda subsiste entre o povo. O rei Dom Duarte condemnando o uso de ouvir contos, diz: «E d'aquesta guysa erramos per este desassecego: se no tempo de orar e ouvir officios divinos, nos conselhos proveitosos, fallamentos ou desembargos, levantamos estorias, recontando longos exemplos.»[3] Gil Vicente conservou esta designação medieval:
Como diz o exemplo antigo
Que não são eguaes os dedos.
O costume de contos era tão persistente entre o povo como entre a aristocracia portugueza. As nossas seroadas