Nos costumes palacianos e universatarios, o conto tomou uma grande importancia, em parte sustentado pelos moralistas catholicos, e principalmente pelo impulso da Renascença classica communicado pela Italia. Gil Vicente caracterisa este costume:
E folgam de ouvir novellas
Que durem noites e dias.[1]
Na Vida do Infante D. Duarte, cita André de Rezende este uso: «Ora, senhor, deixemos a febre e fallemos em coisa de passatempo. Comecei-lhe então a dizer patranhas, com que o tornei alegre.» O infante fingia-se doente para não dar lição ao jurisconsulto Madeira. Aqui a palavra patranha significa o conto imaginoso sem base real; empregou-a Sá de Miranda: «Não do Rei Mouro a patranha.»[2] E Antonio Prestes:
Podeis levar,
Comadre, que vos la conte
Patranhas de rir e folgar.[3]
Este uso domestico acha-se descripto no viver da principal aristocracia do seculo XVI: «O mesmo usava D. Joanna de Vilhena com as senhoras que a vinham visitar, dando a cada uma d'ellas algum trabalho com que se entreter; e entretanto ou lhe lia algum capitulo dos documentos que o conde tinha composto, ou lhe contava algum Exemplo ou historia santa com que adoçar o trabalho; o que fazia com tanta graça que assim D. Brites, duqueza de Coimbra e Aveiro, como todas as mais senhoras, frequentavam com gosto a escola de D. Joanna.»[4] Em