nuel Bernardes]], vem o conto dos tres cegos, que conversam entre si, imitando um pouco o estylo popular. Nos prologos em verso das comedias de Simão Machado acham-se pequenos Contos tirados da tradição classica e erudita.
Apesar da profunda decadencia da Litteratura portugueza no seculo XVIII pela inintelligencia dos escriptores pelo elemento tradicional, os Contos de Trancoso continuaram a ser lidos com soffreguidão, e alguns poetas, como Filinto e Nicoláo Tolentino alludem ao grande interesse que ainda tinham os Contos populares. Na Comedia de cordel Incisão do Peraltice acham-se citados os Contos de Trancoso, e mesmo no Folheto de ambas Lisboas, n.º 25: «O dote d'ella consta de memorias, sem serem dos dedos, mas sim de Contos de Trancoso…» E Filinto Elysio, nas notas da sua traducção de Lafontaine, tambem repete: «Conta de in illo tempore: Como os Contos de Trancoso, do tempo de nossos avoengos.»[1] Este poeta ultra-classico, pela sua origem plebêa, conservava certas reminiscencias tradicionaes; assim allude a varios contos: «João Ratão e a Princesa Doninha… Sem contar outras personagens, que não é muito que me esqueçam (por mais doutrinaes que sejam) contos que ouvi contar ha mais de setenta e dois annos!»[2] «Contem-me Pelle de Asno… conto em França tão conhecido como entre nós o das Tres Cidras do Amor.»[3] Filinto, nas notas dispersas pelas suas Obras, á maneira de uns Tischreden, ou cavacos á mesa, faz allusões importantes á novellistica e litteratura popular: «Com o titulo da Gata Borralheira contava minha mãe a historia da Cendrilhon. E nunca minha mãe soube francez.»[4] A mãe