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semitas do Pentateuco, e por meio dos Exemplos dos prégadores tirados dos contos arabes. A India teve os seus mythos, que desenvolveu na fórma popular dos Puranas, como a Asia semitica teve outros que os doutores rabbinicos compilaram; mas não são estes o elemento ou fundo commum onde se encontram os germens dos contos geraes entre os dois continentes.

O Barão de Eckstein caracterisa as civilisações, que precederam as indo-europêas baseadas sobre as noções scientificas, com as seguintes palavras:

«O mundo primitivo póde dividir-se em trez grandes caracteristicas: ou o pensamento é expresso por signaes e estes signaes se explicam por hieroglyphos; ou o pensamento se exprime por tropos e estes tropos se explicam por paraholas; ou emfim o pensamento se exprime por mythos, e os mythos se explicam por legendas.» Estes caracteres quadram perfeitamente com o grande grupo de civilisações comprehendidas sob o nome de turanianas e kuschito-semitas. Os povos, que como o Egypto, a Chaldêa e a China se elevaram da representação ideomorpha e icastica á generalisação hieroglyphica, desenvolveram um portentoso genio artistico, quer na perfeição dos detalhes, como o chinez, quer nos effeitos geraes e na grandeza, como os egypcios e os chaldeo-babylonicos. Os povos que levaram a figuração material até á representação abstracta dos tropos, elevaram-se ás creações mais extraordinarias da poesia, criaram a capacidade mythica e inventaram as epopêas espontaneas, como as raças semiticas, essencialmente evehmeristas na sua historia; a parabola, que deriva da fórma elementar do tropo, é tambem o rudimento de expressão das noções moraes. O mytho é já um systema de concepções geraes para explicarem a complexidade dos phenomenos e é essa tendencia racional explicativa que o dissolve em legendas; a não ser esta caracteristica o mytho reduzia-se á simplicidade de um tropo. É esta a phase intelle-