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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/334

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olhos daquelles que contemplam as fremosuras das moradas do ceeo que nom som feitas com maão e as vestiduras feitas per deus, e as coroas que nunca seeram comrompidas, que aparelhou o senhor deus aaquelles que o amam. E assy como estes pobres homens parecem a vós sandeus, bem assy e muyto mais nós que andamos neeste mundo e pensamos que avemos grande avondança en esta falsa gloria e com estas deleytações sem proveyto, parecemos dignos e merecedores de lagrimas e choros e de tristeza e de mesquindade, ante os olhos daquelles que gostarom a dulçura de bees perduraveis, que enganõ os homens en esta vida fazendo-se creer que ham em sy blandeza e dulçura grande e verdadeyra, o que he o contragio e per esto sõ enganados os viçosos.

(Fl. 53, v.)




136. O QUE DEUS FAZ É POR MELHOR

Hum escodeyro avya huma sua mol her, que avia tam grande esperança em Deus que toda cousa de novo que acontecia a sy ou aos seos, sempre dizia:

— Esto he por milhor.

E aconteceu que aquelle escodeyro per aquecimento perdeo hum olho. E sua molher trabalhouse de o confortar, dizendo que aquillo lhe leyxara deos acontecer por o milhor. E depóis aconteceu a este escudeyro de se hir a huma terra estranha que chamõ dos lutuanos e servia hum principe daquella terra. E elle servia aquelle principe muy graciosamente em tal guisa que o principe o amava muyto. E aconteceu ao principe enfermidade de morte. E o costume daquella terra era tal, que quando o principe morria escolhiam hum dos seus sergentes dos melhores e mais graciosos, que morresse com elle, pera o servir en o outro mundo; e queymavãno con o senhor