hum vento grande como tempestade e soverteo as casas e o cavaleyro com todolos que hy eram. E foy feito todo hum grande lago. E parou mentes o jograr tras sy e vyo em cima do lago andar humas luvas e hum sombreyro nadando, que lhe ficarom em na casa do cavaleyro quando o lançarom fóra.
(Ibid., fl. 89, 90. (Ms. 274 da Bib. de Alcobaça, hoje na Bibl. nacional.) Ainda subsiste na tradição oral. Vid. Contos populares portuguezes, n.º 74.)
Eram dous Irmaãos, e huum era sabedor e o outro sandeu. E andavam ambos fóra de sua terra. E querendo-se tornar pera ella, chegarom a huum logar ha sse partiam dous caminhos. E acharom pastores que guardavam gaado, que lhes disseram que huuma carreyra daquellas era dura e fragosa e estreita e per aquella hyriam direytamente e seguros a sua terra. E que a outra era ancha e chaã mas era perigosa e chea de ladrões. Quando esto ouvia o irmão sabedor quisera hyr pela carreyra fragosa e segura. E o irmãao sandeo rogouo muyto que se fossem pela carreyra ancha e chãa. E o sabedor consentyo. E foramse ambos pella carreyra chãa e perigosa. E foramse e sayram ladrões a elles e prenderamnos e esbulharamnos e feriromnos. E lançaram o sandeo em huuma cova em que morresse. E levarom o outro pera o matarem; e dizia o sabedor ao sandeo:
— Malditto seias tu, ca por a tua sandice mouro eu.
E o sandeo lhe disse:
— Mas tu seias malditto, que sabias que eu era sandeo e treesteme.
E assy pereceram ambos. E bem assy acontece ao homem, ca a carne que he sandia quer hir polla carreyra