Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/353

Wikisource, a biblioteca livre


PERO VAZ: Agora posso eu dizer
E jurar e apostar
Que és Mofina Mendes toda
PESSIVAL: E se ella baila na voda
Qu’está ainda por sonhar,
E os patos por nascer,
E o azeite por vender,
E o noivo por achar.
E a Mofina a bailar;
Que menos podia ser?

(Vae-se Mofina Mendes cantando:)

Por mais que a dita me engeite
Pastores, não me deis guerra;
Que todo o humano deleite
Como o meu pote de azeite
Hade dar comsigo em terra.

(Gil Vicente, Obras, t. I, p. 115. Ed. de Hamb.)



151. O ERMITÃO E O LADRÃO

Em um ermo morava um virtuoso Ermitão, ao qual se chegou um salteador de caminhos, dizendo-lhe:

— Vós rogaes a Deus por todos; rogae-lhe que me tire d’este máo officio que trago, senão ey-vos de matar.

E indo d’ali tornava a fazer o mesmo que d’antes, e outra vez tornava a vir ao padre, dizendo:

— Vós não quereis rogar a Deus por mi, pois ey-vos de matar.

Tantas vezes fez isto, que uma veiu determinado para matar o padre, o qual lhe pediu e lhe disse: